A Conjuntura Atual da Carreira do Policial Militar: Desafios e Perspectivas para o Cuidado com a Saúde Integral
- Rogério Almeida Consultor Sistêmico
- 14 de dez. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 15 de dez. de 2024
Foto: (Venial Fotografia) reportagem jornal “a gazeta do povo”

A Conjuntura Atual da Carreira do Policial Militar: Desafios e Perspectivas para Saúde Integral e Expectativa de Vida
A carreira do policial militar no Brasil é desafiadora, abrangendo diariamente estresse físicos e emocional. São profissionais fundamentais para a sociedade, segurança pública e paz social. Entretanto, as condições de trabalho impactam na saúde integral e qualidade de vida, contribuindo para a redução da expectativa de vida.
A própria natureza do serviço impacta na saúde dos policiais militares, pois estão expostos a situações de alto risco, como confrontos armados, longas jornadas e escalas extenuantes, além do constante estado de vigília. Como resultado, enfrentam oscilação na imunidade, altos índices de doenças cardiovasculares, hipertensão e diabetes, associadas ao estresse crônico e a hábitos alimentares.
O cenário é ainda mais preocupante quando se refere à saúde mental. Pesquisas indicam que cerca de 30% a 40% dos policiais militares sofrem de transtornos psicológicos, depressão, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Esses números são agravados por diversos fatores, como a ausência ou pouco apoio psicológico institucional e o próprio preconceito em relação à busca de ajuda, admitir que precisa de ajuda. A taxa de suicídio entre policiais militares é cerca de 20%, oito vezes maior do que a média de ocorrência na população em geral, evidenciado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública como a principal causa de morte entre policiais no Brasil. Entre 2021 e 2022, os casos de homicídios seguidos de suicídio na corporação aumentaram significativamente, passando de 13 para 29 ocorrências. Além disso, as armas de fogo foram responsáveis por 46% dos suicídios e 94% dos homicídios seguidos de suicídio. Em 2023, o número de suicídios entre policiais da ativa superou o total de mortes em confrontos armados.
Quais os fatores que impactam na saúde do Policial Militar?
A profissão de policial militar já é estressante, porque o policial liga diariamente o seu sistema de alerta, perigo e fuga. A neurociência explica que o nosso sistema nervoso simpático, conhecido como “sistema de luta ou fuga" prepara o corpo para ação em situações de estresse ou perigo. Para isto há a liberação de adrenalina e noradrenalina na corrente sanguínea, preparando todo o corpo para o que “pode vir”, sem contar em situações em que surge o medo, sentimento primário do ser humano, que libera cortisol e noradrenalina.
As longas jornadas de trabalho, os baixos salários, e desigualdades sociais, que afetam a estabilidade emocional desses profissionais, sem contara com a difícil gestão das finanças que pode levar ao endividamento.
Essa realidade revela um ambiente de trabalho que exige mudanças estruturais para a preservação da saúde física e mental.
O Policial Militar e a sua transição para a inatividade.
Outros desafios para os policiais militares surgem na aposentadoria, principalmente porque a maioria não se prepara para a transição de carreira e as corporações militares não dispõem de políticas sociais para esta transição. Muitos enfrentam dificuldades de adaptação à vida fora do serviço, o que agrava problemas de saúde já existentes. Estudos recentes apontam que a expectativa de vida média desses profissionais aposentados varia entre 56 e 62 anos, um número alarmantemente inferior à média nacional de 75,6 anos, segundo o IBGE. A transição para a reserva frequentemente traz sentimentos de isolamento, perda de propósito e dificuldades financeiras, a chamada perda da função social, o que reforça a necessidade de políticas públicas voltadas para o suporte aos policiais na inatividade.
Todas essas combinações de fatores baixam a expectativa e qualidade de vida dos policiais militares quando chegam na melhor idade, na fase da vida onde se precisa de estabilidade emocional, financeira, saúde equilibrada.
Como melhorar a qualidade de vida dos policiais militares?
O caminho é a valorização profissional, a criação de programas regulares de acompanhamento e orientação da saúde mental preventiva é essencial para reduzir o estigma e proporcionar suporte psicológico contínuo, a manutenção de atividades físicas regulares, o incentivo à cultura dos cuidados preventivos à saúde integral. Além disso, uma política de planos de cargos, salário e carreira estruturado, melhoria na infraestrutura de trabalho, como escalas mais equilibradas e equipamentos modernos, aumento do efetivo, treinamento profissional constante, podem reduzir o impacto físico e emocional da profissão.
A carreira do policial militar é essencial para a sociedade, exige atenção urgente das instituições, união e Estados. Para tanto, além de prestar um serviço de qualidade, os policiais militares podem se organizar e buscar conscientizar o poder público e a sociedade da importância da valorização do ser humano e da carreira do Policial Militar. O Policial Militar é mais que uma máquina que se conserta quando quebra e se aposenta quando não serve mais. O Policial Militar é um ser humano que tem muitos papéis em sua vida, homem e mulher, pai e mãe, filho e filha, companheiro e companheira que pode dividir seu dia para executar cada um dos seus papéis com excelência.
Avante, oh Polícia Militar!!!
Rogério Almeida é Bacharel em Direito, Advogado, Oficial da Polícia Militar do Piauí (já na Reserva), Especialista em Mediação e Arbitragem, em Direito de Família e Sucessões, em Educação em Direitos Humanos, em Gestão em Políticas Públicas em Segurança Pública.
É Mediador Judicial e Extrajudicial, Facilitador em Justiça Restaurativa, Terapeuta Holístico com abordagem em Constelações Familiares e Terapia do Trauma – método da IOPT, Barras de Access.
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